quarta-feira, 15 de abril de 2009

Pirraça

A vida, pra mim, vez ou outra se mostra de verdade. Porque acho que na maior parte do tempo, o que prevalece, é o existir. A vida é diferente... Viver é diferente... A vida é cheia de truques, de graças, de piadinhas, de um humor um tanto quanto peculiar.
A minha, por exemplo, adora me surpreender. Faceira que só ela, sempre armando acontecimentos inesperados, sempre chamando minha atenção. Quase como uma criança mimada, sabem? Ela chama a minha atenção como se dissesse que está ali, e comigo. Vocês podem não entender essa personificação, mas aí é como eu já disse: a existência, ou seja, as coisas como são, o sol, a natureza, os carros passando, é confudida com a forma como as coisas acontecem, quer dizer, o jeito como nasce o sol (mais amarelo ou mais laranja), a luta da muda pra vencer o solo, o fluxo atordoado do trânsito. Isso tudo que é vida, isso tudo é onde há vida, isso tudo é o que a vida controla.
Enfim, o mais curioso de tudo é o modo como ela chama minha atenção (e tenho certeza que não é só comigo que ela age dessa maneira): promovendo encontros inesperados. De repente, eu encontro o rapaz do ônibus numa festa. De repente, eu encontro uma amiga de infância numa viagem. De repente, eu encontro o moço que tomava minha atenção na oitava série ali na esquina. De repente, pinta a oportunidade de acontecer um encontro que eu nunca pude ver materializado, meu e de toda a outra família que só conhecia por relatos.
Antes de tudo isso até, antes até de minha existência, a minha vida já armava seus truques com uma esperança romântica. Ela preparou todo o cenário de filme hollywoodiano pra eu nascer: rapaz paulista, moça paraense, jovens, Hawaii, amor. Depois ela deve ter visto que pra durar mais de duas horas, o filme não pode ter um happy end. Fica enjoativo, não pega bem, as outras vidas cobram uma história mais coerente. (Não que a minha vida seja maria-vai-com-as-outras, é que no início, são todas muito inexperientes pra definirem o que querem pra si.)
Acaba a ilusão do filme, mas minha vida é boa, ainda que traquina. Ela decide escolher a sorte, então, de complemento. Afinal, nenhuma vida age sozinha, há sempre outros elementos que dão uma ajudinha nessa empreitada de ser vida. Agradeço por minha vida ter feito uma grande amizade com a sorte. Suspeito que, de algum jeito, ela influenciou sua amiga pro lado bom. Minha vida é faceira, mas é direita.
Agora, é claro que surgem outras perguntas, como: "E a sorte, vem da onde?". Porque a vida vem comigo, mas a sorte vem com quem? As coisas todas que existem sempre são trazidas e levadas por alguém, alguma coisa. A sorte veio com o grande mistério, e nem minha vida (desconfio que a sua também não) sabe da procedência dessa amiga. Vai ver é por isso que a influência se torna fácil: o desconhecido é menos complicado de se moldar. Ou talvez eu esteja falando besteiras.
Além de tudo, a danada tem um humor... ah, eu adoro! Me divirto, de verdade. Acho que, de certa forma, o jeito de ela me chamar atenção fez com que eu adquirisse uma percepção mais atenta das coisas, dos detalhes. Desde cenas prosaicas até os repentinos encontros, ela me anima com o humor que só nela encontro. Não chega a ser um sarcasmo... mas chega perto de um deboche. Na verdade, acho que na maioria das vezes, ela só quer ver minha reação. Como se impondo situações pra mim, me sussurrasse ao ouvido e me estimulasse a tomar coragem, a agir, a qualquer coisa diferente da passividade que eu sempre demonstrei. Disso eu ainda não tenho certeza, mas acredito que ela deva ser como essas pessoas que não gostam de mesmice e clamam por mudanças e alvoroço. Quase como eu. Quase.

Talvez a minha vida seja
prima distante do Pirraça.
Mais boazinha, é claro.

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